Esta terra fica a 20 metros da minha porta e há 6 anos que a arrendava por 20€ por ano, não me perguntem como é que se calculam estas rendas que eu também não sei. Estava abandonada havia mais de 20 anos, fetos, silvas e cana roca da minha altura. Devagarinho transformei-a numa pastagem, vedei-a, e há dois anos no Verão conheci o proprietário , um “americano”. Disse-lhe que se a pensasse em vender que me dissesse, eu conhecia bem o procurador e sabia que não só como vizinho mas como rendeiro tinha direito de recusa se a terra ficasse à venda.
Este Verão o procurador disse-me que estava tudo à venda. Numa das coisas mais estranhas que já me aconteceu aqui o procurador não me disse o preço da terra até ao dia antes da escritura. Eu dizia-lhe que tinha que saber porque era bem possível que não tivesse esse dinheiro, ele dizia-me que não me inquietasse, que de certeza que tinha, e se não tivesse não era problema, fazia-se a escritura à mesma e pagava quando pudesse. Apreciei a confiança mas não fiquei muito descansado, a cada vez que encontrava o homem ele dizia-me “não te rales”, até que em Novembro se ia finalmente marcar a escritura. Recebi um recado da notária (das minhas coisas favoritas aqui é a proximidade) a dizer-me que para se marcar a escritura era preciso um preço de venda, e ficou um pouco intrigada quando eu lhe disse que podia não acreditar mas eu não sabia. O procurador lá mandou o técnico da câmara avaliar aquilo e comunicou-me o preço no dia da escritura. Era o dobro do que eu calculava mas não tinha escolha, se não comprasse a terra comprava-a o outro vizinho e eu ficava sem esse pasto. Além disso deve-se sempre fazer todo e qualquer esforço para comprar terras que sejam contíguas à nossa e devemos lembrar-nos de que terra é um bom investimento, especialmente porque já não se faz mais…tirando os casos em que estados reclamam terras ao mar, o que não é bem a mesma coisa e creio que no futuro vai ser mais comum o mar reclamar terras do que o contrário, especialmente porque com as perícias e capacidades dos Holandeses há muito poucos povos no mundo .
Além disso quanto mais o mundo urbano caminha para a degradação ambiental, segregação social e violências de toda a ordem mais valor tem um pedaço de terra num sítio com esta ilha. Todos os anos desembarcam aqui centenas de estrangeiros que olham para isto como um Refúgio Último e só não compram mais propriedades porque não as encontram. A publicidade incessante não abranda e creio que a tendência é para aumentar, ainda hoje conheci uma americana do Hawaii que cá apareceu com dois filhos e está determinada a instalar-se aqui. Diz que há aqui uma aura energética incrível, eu disse que não percebo nada da auras nem nunca vi nenhuma mas desde que cheguei aqui pela primeira vez que tive a certeza de que esta ilha era especial. Tão especial que tenho um certo receio pelo futuro disto , não muito porque regra geral a minha preocupação com o futuro estende-se no máximo a 20 anos , depois disso é-me igual.
Na semana passada vendeu-se a Caldeira do Mosteiro inteira, consta que foi negócio de 1,5 milhões ou muito perto, é uma caldeira vulcânica inteira com uma aldeia abandonada.
Vai ser um empreendimento turístico, como não podia deixar de ser, tal como 95% das casas que estão nesta altura a ser recuperadas, mas turismo ou não o que tenho por certo é que se há sítio onde o valor das terras só tende a aumentar é esta ilha, e por isso fiz um esforço gigante para pagar metade do preço da minha terra nova. O procurador nem pestanejou, depois da escritura feita depositei a metade do preço na conta do proprietário , apertámos a mão e sei que nunca mais tenho que lhe falar no caso excepto no dia em que pagar a outra metade.
Voltei a casa e fui andar para trás e para a frente na terra que já era minha , a apreciar a diferença, que é enorme.
Pelo natal fui dar a boas festas a uns vizinhos que por acaso eram as pessoas que tinham aquela terra arrendada há 20 anos atrás, contei-lhes a novidade e disseram-me logo que a mata também me pertencia, o que me deixou muito contente. Se repararem na foto a terra termina com umas árvores, é bordejada por uma “barroca” de uns 100m2 que estava brava como uma selva e que eu não sabia, nem o procurador, que fazia parte da terra. “Mete-te já lá dentro para saberem que aquilo é teu!”, aconselhou o meu vizinho, e assim fiz, já comecei a limpá-la , de catana e motosserra, são principalmente incensos mas há laranjeiras velhas, figueiras, araçás e as omnipresentes canas rocas e canas bravas, tenho para muito tempo a limpar aquilo e tirar de lá a lenha.A terra pode não ter ficado muito mais produtiva pelo acrescento inesperado nem há grande coisa que se possa fazer numa barroca daquelas mas ficou mais bonita, também tenho uma mata! Como todo o resto, é pequenina, mas eu gosto de coisas pequeninas.
pois fizeste muito bem, terra já não se faz. Disfruta-a. Abraço
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comecei agora a ler o teu blog e estou a gostar muito da partilha que fazes da tu vivência aí nas Flores!
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Obrigado!
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